20.4.05

Ratzinger, agora Bento XVI, aplaudido e assobiado na praça

A eleição do cardeal Ratzinger como sucessor de João Paulo II provocou ontem reacções diversas na multidão que aguardara, com expectativa, a notícia da conclusão de um dos conclaves mais rápidos das últimas décadas. E se a maior parte se rendeu e aplaudiu, houve quem saísse desiludido.

In http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2005&m=04&d=20&uid=&id=16573&sid=1820

Comentário: Habemus Papam. O até agora cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, é o novo Papa, tendo escolhido o nome de Bento (é já o XVI). Ortodoxo, defensor da dogmática cristã, é um nome amado por uns, criticado por outros. Tudo, na minha opinião, porque tem a coragem de expressar em voz alta aquilo em que a maioria da alta hierarquia religiosa acredita – e por isso a sua eleição não foi uma surpresa. Algumas notas negativas em relação às críticas:
1. Os críticos gritaram bem alto a sua raiva pela eleição de Bento XVI. Os ataques de alguns foram desprezíveis, pois não dão o benefício da dúvida a um recém-eleito.
2. Uma das críticas mais risíveis foi a de que Ratzinger tinha sido membro da Juventude Hitleriana – facto assumido pelo próprio. O problema é que, para se perceber melhor a situação, é preciso explicar tudo: Ratzinger nasceu em 1927, e viveu a juventude na Alemanha Nazi. Para quem não sabe, todos os jovens alemães dessa altura pertenciam à Juventude Hitleriana, já que tal era obrigatório…
3. Ratzinger até teve, em relação ao Nazismo, uma atitude bem positiva, que os críticos tendem a escamotear. Ele foi chamado para o exército alemão em 1943, e desertou no ano seguinte por se opor ao Nazismo (o que na altura era punido com a pena de morte).
4. Outra das críticas ouvidas foi o facto do Papa ter sido até agora prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – que é “o organismo que sucedeu à Inquisição e que tem como função zelar pela ortodoxia da transmissão da fé católica”. Com isso pretendem chamá-lo inquisidor. Ora a Inquisição foi das maiores vergonhas da Igreja Católica, vergonhas essas que nunca devem ser esquecidas, mas a Inquisição já acabou, e o próprio João Paulo II já pediu perdão pelas atrocidades cometidas pela mesma. Comparar o incomparável é intelectualmente reprovável, e seria o mesmo que dizer que todos os alemães, hoje em dia, são nazis, ou que todos os árabes são terroristas.
Não sei se Ratzinger foi a melhor escolha, pois não conhecia a maior parte dos outros cardeais, nem conheço muito bem o próprio – e até estou em desacordo com muitas das ideias que ele defendeu ao longo dos anos. Mas penso que é mais sensato esperar para ver, para se poder criticar depois.