20.10.05

Ajuda atrasa desenvolvimento da África

O título não corresponde ao pensamento de um antiafricano, nem de um neocolonialista empedernido, nem de um inimigo do inevitável na História. Apenas roubei, para o título desta crónica, a ideia de um intelectual africano representante da geração pós-independências, um conhecido economista queniano, James Shikwati, de 35 anos, formado pela Universidade de Nairobi e director da Rede Económica Inter--Regional, instituto que promove as ideias do mercado livre. Que disse este queniano ilustre à revista brasileira Veja, em Agosto passado? "A ajuda (humanitária) atrapalha."

Shikwati concedeu a referida entrevista (os brasileiros e a sua imprensa estão-se preocupando cada vez mais com África, ao contrário daqueles que dela tanto falam e dela pouco tratam) após a decisão do G7 de aumentar para 50 mil milhões de dólares por ano a ajuda humanitária a África. Quando o jornalista lhe perguntou se essa decisão não era "uma boa notícia", respondeu "É bom para os países ricos, como manobra de relações públicas. Como medida útil para a criação de riqueza, o que os países africanos precisam, as doações não ajudam em nada. Se der dinheiro a um mendigo e voltar a vê-lo na rua no dia seguinte, não se pode dizer que o tenha ajudado. Ele continua mendigando. É isso que está acontecendo em África."

O de empresas estatais ineficientes, criadas com doações internacionais, que dificultam pôr--se "o sector privado a competir"; o do sector agrícola, já que "o envio de toneladas e toneladas de alimentos atrapalha os produtores locais, que param de produzir o pouco que têm", incapazes de competir "com os alimentos distribuídos gratuitamente à população"; o pouco sector produtivo que está "sendo destruído" (na Nigéria, em 1997, "havia 137 mil empregados na indústria têxtil", em 2003 restam "apenas 57 mil", porque "os países ricos nos inundam com roupas doadas, que vão abastecer os mercados de rua nas cidades africanas").

In http://dn.sapo.pt/2005/10/20/opiniao/ajuda_atrasa_desenvolvimento_africa.html

Comentário: É um artigo muito interessante, que vale a pena ler. Os nossos líderes, assim como a generalidade das populações, acham que ajudar os africanos significa mandar-lhes dinheiro, comida e roupa. No fundo, é ir-lhes dando esmola. Como todos sabemos, os pedintes não pegam nas esmolas e não investem o dinheiro nem procuram emprego. Agarram na esmola, compram os bens de que necessitam nesse dia, e no dia a seguir voltam para a rua. A mendicidade é a sua profissão.
Hoje em dia África é o mendigo mundial. Recebe dinheiro, roupa, comida. Assim, produz pouco – como é que alguma empresa pode competir com produtos gratuitos? Através das “generosas” dádivas que o resto do Mundo lhes dá, os africanos ficam totalmente dependentes para poderem sobreviver. Não criam empresas, não produzem nada, e vão mendigando para se manterem vivos. Parece-me que é necessária uma abordagem completamente diferente em relação ao problema do continente negro – dar esmolas não os ajuda, empobrece-os ainda mais. Parte da solução seria a total abertura comercial (o fim das subvenções agrícolas e das PACs…). Mas disso não parece haver muito interesse em falar…