25.1.06

Palestina A eleição que tardava

Numa clínica do único território palestiniano que não tem ocupação israelita no interior, mas em volta, dois homens resistem a dizer a palavra Hamas, o movimento em que hoje vão votar. As segundas eleições legislativas de sempre para os palestinianos são as primeiras em que a Fatah de Arafat competirá com os islâmicos do Hamas, candidatos ao poder com mais de 30 por cento de votos nas sondagens
In http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=01&d=25&uid=&id=60055&sid=6650

Comentário: Há dez anos, enquanto decorria o processo de paz de Oslo, ocorreram as primeiras eleições legislativas na Palestina. Hoje, pela segunda vez na sua história, ocorrerão as segundas – as primeiras multipartidárias. Desta vez, Arafat já não existe. A Fatah está dividida, e os votos concentram-se perigosamente no grupo terrorista Hamas, devido à corrupção endémica do partido de Arafat. Americanos, europeus e israelitas moderados mostram sinais de extrema preocupação.
Sharon morreu, politicamente, há uns dias. Exactamente no seu apogeu enquanto estadista, precisamente na altura em que era mais consensual internacionalmente. Fisicamente está vivo, “a recuperar”, o que apenas demonstra que este homem é, de facto, um duro. Duro, implacável, e especialmente pragmático. Os últimos tempos demonstraram em especial esta última característica, com a sua política de retirada de Gaza.
Ariel Sharon foi um militar temível, que combateu em todas as guerras onde Israel esteve envolvido, desde a formação do Estado judaico. Começou logo em 1948. Desobedeceu inúmeras vezes às ordens dos seus superiores, arriscando variadas vezes a vida em ataques arrojados. Ganhou o reconhecimento nacional – tornou-se verdadeiramente um herói – na guerra de Yom Kippur, em 1973, em mais uma manobra arriscada e de desrespeito pelas patentes mais altas: atravessou o Suez com os seus blindados e cercou o exército egípcio, numa manobra que alterou o rumo da guerra. Foi sempre muito mal visto pelos árabes, em especial a partir dos massacres de Sabra e Shatila, e foi um dos grandes impulsionadores dos colonatos.
Por toda esta história, a fase final da sua vida política, e talvez física, é estranha para todos. Mas apenas demonstra o tal pragmatismo de que falava há pouco. Sharon decidiu retirar-se da Faixa de Gaza, com o propósito de assegurar a segurança de Israel, logo a Paz. O Mundo foi-se apercebendo, incrédulo, de que este Primeiro-Ministro de Israel poderia estar a conseguir a tão almejada resolução do eterno conflito do Médio Oriente. Nesse momento, o seu frágil corpo humano prega uma partida à História.
Pragmaticamente, também, temos de concluir que a sua morte política vai atrasar, de novo, a solução para o grave problema Israel/Palestina. O futuro manter-se-á sombrio. Agora sem Sharon. E se calhar com o Hamas…