16.2.06

O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro

(Fernando Pessoa)

(…)
Diz-me muito mal de Deus,Diz que ele é um velho estúpido e doente,Sempre a escarrar no chãoE a dizer indecências.A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,E o Espírito Santo coça-se com o bicoE empoleira-se nas cadeiras e suja-as.Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nadaDas coisas que criou -"Se é que as criou, do que duvido" -"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,mas os seres não cantam nada,se cantassem seriam cantores.Os seres existem e mais nada,E por isso se chamam seres".E depois, cansado de dizer mal de Deus,O Menino Jesus adormece nos meus braçosE eu levo-o ao colo para casa.
(…)

Poema completo em http://faroldasletras.no.sapo.pt/poesia_caeiro.htm

Comentário: Que faria Freitas do Amaral se fosse Ministro no tempo de Fernando Pessoa? Lançava uma fatwa contra o escritor?...