6.6.06

Re: Professores dizem que pais não estão preparados para os avaliar (XIV)

Esta história de esperar que as mentalidades mudem é perniciosa. As mentalidades não mudam por obra e graça do Espírito Santo. Provavelmente, o que há de mais positivo em pôr os pais a avaliar os professores, em encará-los como parte importante da comunidade educativa, em esperar deles uma contribuição, é precisamente que se está a criar o "caldo cultural" transformador das tais mentalidades, ao contrário do que se obtém com a tradição de troca de acusações que existe entre pais e professores. Ninguém se torna responsável antes de ter responsabilidades.

Avaliar os professores e a escola é bom. Por outro lado, temos que proteger os professores da perseguição a que a certa altura podem começar a ficar sujeitos, a somar àquela que já têm algumas vezes nas aulas. Temos que perceber que não é esperado que um professor numa sala de aula responda a problemas da dimensão sociológica da delinquência juvenil, que não se compadecem com reguadas - se fosse por aí, acho que os arraiais de pancada que estes putos levam em casa (quando ao menos a violência é só física...) já teriam resolvido o problema. Mas, de facto, criar uma cultura de avaliação é fundamental. E é a escola e os professores que importa avaliar. Concluir que um certo casal nunca deveria ter tido filhos ou que um miúdo é insuportável e dá vontade de esganá-lo é, pelo menos, totalmente inútil, a não ser como desabafo. É às instituições e aos profissionais que se pode exigir alguma coisa. Se as relações entre as escolas e as famílias são más, vamos discutir a escola, não vamos esperar que os pais mudem a mentalidade e depois apareçam na escola.

Muita da discussão, acho eu, tem finalmente a ver com as consequências a retirar destas avaliações. Mas estou com muito calor e vou-me embora daqui.
(Kiki)