RE: E se a pergunta fosse... Tens $$$ ou não (XXII)
Caro Zé
Recebi a atoarda e vou abandonar o remanso da minha quietude. Vou tentar ser telegráfico. O aborto, clandestino ou não, é sempre um problema. O aborto clandestino é um caso de saúde pública e, nesta assunção, exige do poder político atenção especial. Ou exigiria…
O aborto clandestino é, também, um problema social, cuja raiz, como todos devemos saber, radica em causas económicas, nomeadamente quando há escassez de recursos… E aqui, meus amigos, dever-se-á discutir o que é “aborto de luxo”* e o “aborto por necessidade”*? Penso que não? E vou tentar explicar porquê! Até agora a discussão entre os defensores do sim (entre os quais estou incluído), tem sido debatida à luz da saúde pública e problemas sociais. A tónica, quanto a mim, não esquecendo o sublinhado, deveria ser posta no âmbito dos direitos. É filosoficamente mais discutível, dá pano para mangas, mas quanto a mim, é nesse âmbito que a interrupção voluntária da gravidez deve ser tida (e aqui, caro Zé, não vou entrar em diatribe com o fetoJ não pondo eu em causa que o feto é uma forma de vida…) Porque é que uma mulher não pode decidir sobre o seu corpo? Porque é que uma mulher há de ter uma gravidez que não deseja? A direita exime-se a este discurso, e largos sectores da esquerda é relapsa à incorporação do discurso mais feminista…espero que compreendam não me ter socorrido, ou sequer aqui aduzido os argumentilhos hipócritas do não…
Porque é que sou pelo sim? Para além das razões supraexpostas e em síntese:
- é preciso pôr cobro ao aborto ilegal e inseguro
- o aborto não é um método de planeamento familiar, mas não é suficiente para prevenir a gravidez indesejada
- o sim não obrigará ninguém a abortar
- o aborto clandestino mata e é mais traumatizante e também mais inseguro e, por isso mesmo, é um problema de saúde pública.
- Pela maternidade e paternidade conscientes
- Porque qualquer indivíduo deve ter liberdade suficiente de decidir sobre o seu corpo
E quanto ao ataque que desferes ao Sócrates, nesta matéria, humildemente, e até prova em contrário, tem estado impecável! Sinceramente não percebi o teu desconforto! O que querias que ele fizesse? Está amarrado de pernas e mãos, por um cozinhado político feito em 1998 entre o Guterres e o Marcelo. O Guterres sim, teve culpa, como era do contra, deixou-se engendrar pela estratégia marcelista (pelo menos à época havia oposição) e perdeu em toda a linha…Se houve consulta popular em 1998 e outra em 2006 (quanto a mim o aborto não é referendável, mas isso é outra estória), o Governo não tem margem de manobra para mudar o quadro legislativo atinente a esta matéria caso vença o não. Presumo que caso contrário estaríamos a brincar aos referendos…ou já estaremos?
Abraço
* expressões caras a Álvaro Cunhal que as usou na sua tese Aborto- causas e soluções (excelente tese, embora em alguns pontos já histórica e ideologicamente datada…basta ler a justificação do autor para a proibição do aborto na União Soviética em 1937).(Pica)
Recebi a atoarda e vou abandonar o remanso da minha quietude. Vou tentar ser telegráfico. O aborto, clandestino ou não, é sempre um problema. O aborto clandestino é um caso de saúde pública e, nesta assunção, exige do poder político atenção especial. Ou exigiria…
O aborto clandestino é, também, um problema social, cuja raiz, como todos devemos saber, radica em causas económicas, nomeadamente quando há escassez de recursos… E aqui, meus amigos, dever-se-á discutir o que é “aborto de luxo”* e o “aborto por necessidade”*? Penso que não? E vou tentar explicar porquê! Até agora a discussão entre os defensores do sim (entre os quais estou incluído), tem sido debatida à luz da saúde pública e problemas sociais. A tónica, quanto a mim, não esquecendo o sublinhado, deveria ser posta no âmbito dos direitos. É filosoficamente mais discutível, dá pano para mangas, mas quanto a mim, é nesse âmbito que a interrupção voluntária da gravidez deve ser tida (e aqui, caro Zé, não vou entrar em diatribe com o fetoJ não pondo eu em causa que o feto é uma forma de vida…) Porque é que uma mulher não pode decidir sobre o seu corpo? Porque é que uma mulher há de ter uma gravidez que não deseja? A direita exime-se a este discurso, e largos sectores da esquerda é relapsa à incorporação do discurso mais feminista…espero que compreendam não me ter socorrido, ou sequer aqui aduzido os argumentilhos hipócritas do não…
Porque é que sou pelo sim? Para além das razões supraexpostas e em síntese:
- é preciso pôr cobro ao aborto ilegal e inseguro
- o aborto não é um método de planeamento familiar, mas não é suficiente para prevenir a gravidez indesejada
- o sim não obrigará ninguém a abortar
- o aborto clandestino mata e é mais traumatizante e também mais inseguro e, por isso mesmo, é um problema de saúde pública.
- Pela maternidade e paternidade conscientes
- Porque qualquer indivíduo deve ter liberdade suficiente de decidir sobre o seu corpo
E quanto ao ataque que desferes ao Sócrates, nesta matéria, humildemente, e até prova em contrário, tem estado impecável! Sinceramente não percebi o teu desconforto! O que querias que ele fizesse? Está amarrado de pernas e mãos, por um cozinhado político feito em 1998 entre o Guterres e o Marcelo. O Guterres sim, teve culpa, como era do contra, deixou-se engendrar pela estratégia marcelista (pelo menos à época havia oposição) e perdeu em toda a linha…Se houve consulta popular em 1998 e outra em 2006 (quanto a mim o aborto não é referendável, mas isso é outra estória), o Governo não tem margem de manobra para mudar o quadro legislativo atinente a esta matéria caso vença o não. Presumo que caso contrário estaríamos a brincar aos referendos…ou já estaremos?
Abraço
* expressões caras a Álvaro Cunhal que as usou na sua tese Aborto- causas e soluções (excelente tese, embora em alguns pontos já histórica e ideologicamente datada…basta ler a justificação do autor para a proibição do aborto na União Soviética em 1937).(Pica)
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