16.6.05

Ainda a morte do Cunhal

Ainda sobre a morte do Cunhal, depois das imagens pitorescas que vi a propósito das exéquias fúnebres do, em boa hora, malogrado ditador comunista ou, se quiserdes, democrata impostor, não posso deixar o de emitir o seguinte comentário:
Respeito a vida de qualquer ser humano e lamento sempre a morte, sendo ambas as duas circuntâncias que me ligam a todos eles.
No caso, as únicas!
Respeito homens de carácter perseverante e rectilíneo, ainda que em segmentos divergentes e contraditórios aos que perfilho.
Cunhal foi um homem que dignificou a luta contra o comunismo, felizmente lograda, por ser um líder combativo, o que exigiu adversários de qualidade e poíticas de qualidade para o derrotar.
Portugal ganhou com isso. Nessa medida, não foi um perdedor, como alguns pretendem.
Portugal perdeu foi com a perniciosa "manu militari" da facção que propagou, perdemos todos quando a luta se encobriu no coldre do 25 de Abril, esse famigerado golpe de estado armado comunista, que alguns, politicamente menos correctos ou menos comprometidos, como é o meu caso, já vão abertamente lamentando.
Não é de lamentar o objectivo da revolta em questão, que não era novo, apenas é de lamentar ter sido necessário esse desiderato chegar às mãos de quem chegou, com os resultados que agora - 30 anos depois - mais não se conseguiram esconder: uma profunda crise económica e financeira das instituições básicas Estado, empresa e família.
O 11 de Março de 75 e as nacionalizações que trouxe, foram a machadada final nesse sentido, arruinando todos os grupos económicos fortes indispensáveis a qualquer economia, especialmente naquela altura, o que agora se paga caro.
Aqui invoco Vasco Gonçalves, um mero agente do PC e de Cunhal, que foi a cara das nacionalizações, figura altamente prejudicial para o país, que nem uma lápide deveria merecer dos nossos impostos.
Lamentavelmente, repito, não soubemos sair do moribundo, sombrio e retrógrado Estado Novo - ainda mais indigno que dois 25 de Abris - duma forma democraticamente legitimada, sem rupturas ofegantes e irracionais. Quem o soube fazer (invoco, como muitas vezes o faço, o exemplo Espanhol) tem os resultados à vista.
Afinal, a história, sem preconceitos, encarregar-se-á de explicar os famosos 20 ou 30 anos de atraso de Portugal face aos países mais desenvolvidos da Europa. É certo que esse atraso já existia - e se calhar até era maior - no Estado Novo, mas o certo é que se mantém e até se está a agravar...
Tenho dito.
(Faber)