16.6.05

Confronto entre França e Reino Unido ameaça de fracasso cimeira europeia

A reunião de hoje e amanhã em Bruxelas é daquelas onde tudo pode correr mal. O confronto entre Tony Blair e Jacques Chirac ainda pode deitar a perder um acordo sobre o orçamento da União Europeia. À crise da ratificação do Tratado Constitucional somar-se-ia outra crise. A única ideia que parece ganhar consenso é a de que a Europa precisa mesmo de uma "pausa para reflectir".
In http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2005&m=06&d=16&uid=&id=25722&sid=2836

Comentário: A França quer que o Reino Unido deixe de receber o “cheque”. Londres acha que deve continuar a receber o “cheque”. Mas tudo isto parte de uma das piores políticas da União Europeia: a Política Agrícola Comum (PAC). Mas comecemos pelo princípio.
A PAC “come” 46% (sim, quase metade!) do “bolo” orçamental da UE. E todo esse dinheiro apenas se destina a 4% da população europeia (com este tipo de políticas os líderes europeus admiram-se dos cidadãos votarem contra Tratados Constitucionais e quejandos? E admiram-se que os EUA vão investindo na ciência, na investigação, na tecnologia, e assim vão progredindo, enquanto a Europa se preocupa quase exclusivamente com o sector agrícola…). Prosseguindo. A Sra. Margaret Thatcher, em 1984, Primeira-Ministra de um país que contribui largamente para o Orçamento europeu, logo para a PAC, não estava satisfeita com esta mesma PAC, porque o Reino Unido não recebia nada daí (e na altura a Política Agrícola “comia” 70% do orçamento!). Acrescente-se que um quarto do dinheiro da PAC vai para a França (um dos países mais ricos da UE…). Devido a esta política de distribuição orçamental claramente injusta, a Sra. Thatcher exigiu que a França desse algum dinheiro para o Reino Unido (o famoso “cheque britânico”), para o ressarcir dos prejuízos. Agora Chirac não quer continuar a pagar o cheque a Tony Blair. Mas quer manter a PAC até 2013…
E assim, com as “tricas” entre os países ricos da UE a ocuparem as reuniões do Conselho Europeu, os cidadãos europeus vão-se afastando dos seus líderes. E a UE vai, devagarinho, definhando. A “pausa para reflectir” é, por isso, urgente e recomenda-se.