10.10.07

RE: UE quer aprovar moratória na ONU já em Novembro (II)

Caro CA,

Permite-me discordar.

Em primeiro lugar, o óbice que mencionas não é um mero contratempo, é um ponto fundamental. Há poucos casos em que seja possível dizer “com toda a certeza” que certa pessoa cometeu determinado crime. Lembro-me de ver reportagens com situações de pessoas que, para encobrir outras ou por situações ainda mais misteriosas, se dão sempre como culpados, sem o serem. O “para além do razoável” não me parece – tal como a ti –ser suficiente, e a “toda a certeza” é quase sempre impossível de provar. E mais vale ter mil culpados “cá fora” do que um inocente “lá dentro”.

Mas, além disso, eu discordo da pena capital por outra razão. Embora eu possa compreender o absoluto desejo de vingança de uma mãe ou um pai que perca um filho nas condições horrendas que descreves, eu não acho que a vingança capital deva ser “política do Estado”. Acho que manter um criminoso – mesmo daqueles “com toda a certeza” – vivo (naturalmente que preso – e eu até posso concordar com prisão perpétua) é uma insigne demonstração moralizadora da sociedade para com o sujeito. Somos todos nós a dizer que matar é errado e que a nossa sociedade não apoia a represália.

Resumindo, ponto 1: Compreendendo, de novo, o desespero e desejo de vingança das vítimas (desejo que eu assumo poderia sentir numa situação dessas), penso que o Estado, como símbolo da sociedade em geral, não deve apoiar, legalmente, vindictas. Ponto 2: não podemos correr o risco de matar inocentes.

Forte abraço,

Fernando