16.1.06

Portugal permanece o país mais desigual da Europa

Portugal é o país mais desigual e mais pobre da União Europeia e a diferença entre os mais ricos e os mais pobres acentuou-se a partir de 2001. O número de pessoas a viver com menos de 350 euros por mês ronda os dois milhões e teima em não descer
É cada vez maior o fosso que separa os portugueses pobres dos portugueses ricos. Portugal é, de acordo com os últimos dados estatísticos do Eurostat, o país da União Europeia (UE) onde é maior a desigualdade de rendimentos entre os dois grupos de pessoas situados nas extremidades da pirâmide social. A comparação entre os rendimentos acumulados pelos 20 por cento mais ricos e os 20 por cento mais pobres revela que, em Portugal, esse rácio atingia, em 2003, os 7,4, o que significa que os mais abonados detêm 7,4 vezes o rendimento dos mais necessitados.

In http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=01&d=15&uid=&id=58442&sid=6475

Comentário: Em 1995 os 20% mais abastados, em Portugal, eram 7,4 vezes mais ricos que os 20% mais pobres. Em 2000 esta diferença baixou para os 6,4 (não me atrevo a dizer que melhorou, pois pode ter acontecido os ricos ficarem menos ricos e os pobres manterem-se igualmente pobres, e isso não é uma melhoria, claramente). Em 2003 a diferença aumentou de novo para os 7,4.
Pode concluir-se, daqui, que Guterres trabalhou bem a este nível. Ainda para mais nessa altura o desemprego também desceu. Mas a verdade nem sempre é assim tão óbvia como parece, e pode ser até radicalmente diferente. Aga Khan, um especialista nestes assuntos (a Fundação Aga Khan avançou inclusive com um projecto de luta contra a pobreza e exclusão em Portugal), acha que as coisas não se devem ver somente deste prisma. De facto, “Guterres privilegiou a solidariedade, com maus resultados no desempenho competitivo” (palavras suas), ainda desequilibrando as contas nacionais. Outros privilegiaram a competitividade, mas isso ressentiu-se, por exemplo, no aumento do desemprego.
Acredito que possa haver mais do que uma forma de atingir o objectivo final de proporcionar maior bem-estar e qualidade de vida a todos os portugueses, e fazer com que o nosso país evolua no sentido de alcançar os mais avançados países europeus e mundiais. Mas aposto mais no caminho difícil de longo prazo, de que é bom exemplo a Espanha. Este país apostou numa taxa de desemprego elevada (mais de 20%) durante muitos anos para dar a volta à economia, e hoje em dia apresenta as mais elevadas taxas de crescimento na Europa, e o seu desemprego também já está a descer. Guterres fez o oposto, e os resultados foram, também, o oposto. Daí que se deva olhar para estes números com muita ponderação, pois os mesmos valores estatísticos podem ilustrar realidades totalmente díspares.