9.2.06

Belmiro diz que a OPA sobre a PT é para "ganhar à primeira volta"

Grupo Sonae deixa violentas críticas à administração da Portugal Telecom e garante que a contrapartida da oferta não será revista em alta. A participação na brasileira Vivo será para vender, a rede de cabo e cobre para separar, com venda de uma delas, e o Estado pode continuar com a golden share.
In http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=02&d=08&uid=&id=62390&sid=6894

Comentário: Esta Operação Pública de Aquisição – hostil, nas palavras de Miguel Horta e Costa – tem, pelo menos, um mérito: vem abanar um pouco a modorra em que andavam as telecomunicações em Portugal. A PT tem feito o seu papel: antigo monopólio do Estado, entretanto privatizada mas com o Estado a manter a “golden share” (a qual lhe vai dando direitos que, enquanto accionista, não são legítimos, na minha opinião), vai tentando atrasar, ao máximo, todos os passos tendentes a uma completa, verdadeira e tão desejável concorrência neste sector. A PT vai prorrogando o que pode, a ANACOM (Autoridade Nacional das Comunicações, regulador deste sector) vai tentando desatar os nós monopolistas ainda existentes mas, apesar de alguns passos à frente, vão-se dando também uns passos atrás. Entretanto o consumidor – todos nós – vai perdendo. Enquanto neste sector não houver verdadeira concorrência os preços manter-se-ão elevados e com baixa qualidade de serviço: Portugal é, ao mesmo tempo, um dos países europeus onde se paga mais pelos serviços de telecomunicações, sem a correspondente qualidade de serviço.A estratégia de Belmiro de Azevedo é arriscada mas, a meu ver, genial – o que, de quem vem, não admira. Vendo que a lentidão dos processos regulatórios é um entrave à liberalização do sector, e consequente crescimento do seu grupo, dá um passo em frente, qual David a tentar subjugar o Golias (a PT é quatro vezes maior que a Sonae), e obriga todos os accionistas a mexer-se. Assim, das duas uma, ou garante o controlo total da PT e desconcentra, finalmente, as redes da PT, resolvendo ele o imbróglio que o regulador não conseguiu solucionar, e ficando à frente do maior grupo privado português; ou então perde a corrida, mas obriga a investimentos dos outros accionistas e a consequente remodelação da estratégia da PT, o que levará certamente a essa mesma liberalização do sector.