2.12.06

Bento XVI conseguiu "a paz de istambul"

O Papa esvaziou os protestos muçulmanos mais radicais, estendeu pontes à Turquia e confirmou o diálogo com a Igreja Ortodoxa. Por António Marujo
O Papa Bento XVI deixou ontem Istambul, após quatro dias de visita à Turquia, lançando quatro pombas como símbolo da paz. Governo e imprensa turcos, líderes religiosos muçulmanos, o Vaticano e a Igreja Ortodoxa - todos estão satisfeitos com o modo como o acontecimento decorreu. "A paz de Istambul", sintetizava em título o diário liberal turco Milliyet. Uma visita para escrever história, reagiram jornais e comentadores.
In http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=12&d=02&uid={87874AE6-032E-46B6-B698-8C18EEC7DA3C}&id=110364&sid=12161

Comentário: O Papa Bento XVI foi, diplomaticamente falando, quase perfeito nesta sua viagem à Turquia, conseguindo fazer esquecer a situação de Ratisbona. Recorde-se que na altura muitos muçulmanos consideraram parte do seu discurso ofensiva para o islão, nomeadamente numa breve referência às “coisas más e desumanas” trazidas por Maomé – apesar de ser uma situação retirada do contexto, a verdade é que Bento XVI podia ter tido um pouco mais de tacto, pois todas as suas palavras são analisadas à lupa.
Agora o Papa acertou em cheio. Em primeiro lugar, a própria decisão de visitar a Turquia. Depois, o apoio da aceitação da Turquia na União Europeia, algo que Ratzinger não aceitava – oxímoro que deve ser considerado natural, já que quando alguém chega a Papa passa a ser o chefe supremo da Igreja Católica, e portanto mais importante do que as suas opiniões passa a ser a defesa da sua Igreja. E, além disso, o facto de ter rezado numa mesquita, ao lado do mufti (chefe religioso) de Istambul, cumprindo as regras de oração muçulmana, voltando-se para Meca e não fazendo o sinal da cruz no final. Tudo somado, foi uma verdadeira viagem ecuménica, dando passos positivos para a paz entre as religiões católica, ortodoxa e muçulmana.