23.1.07

RE: Grande maioria de defensores do "sim" diz ir votar "de certeza" (V)

O teu ponto de vista tem muita razão de ser. Concordo inteiramente com ele.

Há aqui um conflito (constitucional) de interesses: liberdade da mulher / vida do embrião, que está em disputa. Há pessoas que entendem que o Estado deve proteger o embrião, e então decidem pela penalização do aborto – escolhem a vida do embrião (é já um ser humano? Pior: é já uma pessoa?) em detrimento da liberdade da mulher. Curiosamente muitos dos que defendem a liberdade pessoal a nível económico, político, etc., são muito pouco liberalizadores neste aspecto. Eu talvez me veja mais como puramente liberal, e entenda que a forma mais correcta de resolver este assunto é deixá-lo na consciência de cada um. Aposto na liberdade.

Sendo contra o aborto por princípio (haverá alguém a favor?) fico naturalmente sensibilizado com o facto de existir, de facto, um coração a bater às 10 semanas. Mas posso também contrapor com o facto de não existir actividade neuronal nesse período. Assim sendo, podemos falar de um indíviduo? Existe, claramente, vida, mas poder-se-á considerar isso uma pessoa humana? Concordo também contigo nisto, Kiki, não há respostas certas nem simples para estas questões.

Penso que os Estados só devem criminalizar uma conduta quando ela seja consensualmente condenada pela sociedade. Não havendo consenso, penso que o Estado deve deixar para cada um o direito de decidir. E, de facto, esta nova lei (proposta) não obriga ninguém a abortar. Permite apenas que, cada pessoa, a nível individual, possa decidir, livremente, o que fazer numa situação tão desesperante (psíquica, física e moralmente) como esta. No entanto, e para que este referendo não fosse apenas uma tentativa de “liberalização do aborto”, como muitos lhe chamam, penso que se deveria colocar, na questão do referendo, uma única condição para se poder interromper a gravidez até às 10 semanas: a mulher deveria passar por um centro de aconselhamento reconhecido antes da IVG, ao exemplo do que já acontece na Alemanha. Penso que era uma condição muito simples que atenuava um pouco a ideia do “vou abortar porque me apetece”.

Voltarei a este assunto dentro de uns dias, com uma lista que estou a organizar: “razões para votar não / razões para votar sim”.

Abraços