22.6.05

RE: Paralisação dos professores com pouco impacte nos exames nacionais (VIII)

É com gosto que vejo que o Fórum hoje está bem activo. Por vezes parece um monstro com vida própria (lembra o nosso défice público!:)). É muito bom sinal!

Começo por dar um abraço de boas-vindas ao Adriano. Todas as opiniões fazem falta, por isso é com muito agrado que vejo mais pessoas interessadas em deixar um pouco de si para benefício de todos. O que custa é a primeira vez. Depois toma-se-lhe o gosto! :)

Gostava de deixar alguns comentários em relação a este assunto. Ponto a ponto, como aprecio:

1. Os professores não têm “4 ou 5 meses de férias”. Têm, no entanto, mais do que um mês, ao contrário do “comum dos mortais”. E além disso há fases (como esta dos exames) em que o trabalho a fazer é mínimo.
2. Só os educadores de infância e os professores do 1º ciclo se podem, hoje, reformar aos 55 anos (após 30 de serviço). Os restantes reformam-se como a restante função pública, aos 60 anos. De qualquer forma acho que ainda podem, e devem, trabalhar mais tempo. Partilho da ideia do Zema, de que um professor mais vetusto ainda tem muito para dar aos alunos. O horário não deve ser tão sobrecarregado, mas acho que se pode trabalhar até mais tarde. Assim, é natural e imprescindível que no futuro se aumente a idade de reforma (como sabem, contra mim falo).
3. Os professores do ensino secundário dão 22 horas de aulas. Achar que este número de horas é pouco é não saber o que é dar aulas. Dizer o que o Zema disse: “E uma aula não dá assim tanto trabalho a preparar…” é puro desconhecimento da realidade. Ainda bem que ele corrigiu logo de seguida “Neste ponto posso estar enganado”. Estás mesmo, Amigo. Quanto às tuas contas, Zema, deixa que te diga, deixam muito a desejar! (desconfio sempre das pessoas que tentam provar que trabalham mais do que as outras…:)) Dou o meu exemplo: este semestre comecei a dar uma disciplina nova, que necessitava, no mínimo, de 1 semana de preparação por cada aula (incluindo fim-de-semana). E digo-te que precisava de muito mais para a dar mais convenientemente – por isso nos próximos semestres continuarei a estudar para melhorar a minha performance… :) Além de ter de estar constantemente a inovar – melhorar – actualizar. Ainda para além disso há exames até 23 de Julho. E as aulas começaram a 13 de Setembro. Penso que terias de rever mesmo muito das tuas contas…
4. Generalizando (o Ensino Superior e não Superior): preparar aulas teóricas, práticas, laboratoriais, fazer exames, corrigir exames, fazer relatórios, corrigir relatórios, estar atento à evolução das nossas disciplinas, estudar constantemente, cansa. Estar várias horas a falar, a explicar matéria, a incentivar os alunos, a tentar que eles se interessem… cansa. Eu, que corro por gosto, não me importo. Mas não desconsideres, por favor, o nosso trabalho, Zema.
5. O Bergano afirma “Estou desiludido por afirmarem que os direitos dos alunos têm que ser protegidos”. Eu estou desiludido por ver esta frase… penso que foi infeliz (compreendo a parte em que falas dos exagerados direitos dos alunos, da sua falta de educação, de respeito, etc., mas isso seria uma outra discussão – e nisso concordaria, certamente, contigo). Parece-me óbvio que os direitos dos alunos têm de ser protegidos, tal como o dos professores. Estes últimos têm direito à greve mas, tal como os médicos, devem assegurar os serviços mínimos quando os direitos dos utentes (dos alunos) são superiores aos seus direitos de trabalhadores. No caso médico não há dúvidas: todos concordamos que o direito à vida é superior ao direito à greve. Mas e no caso da educação? Não te esqueças nunca que os alunos decidem nestes dias muito do seu futuro. (tenta recordar-te dos teus dias de exame; relembra os nervos, o stress, a ansiedade, a importância que esses dias tiveram, inegavelmente, no teu futuro). Se os alunos forem dedicados, têm um plano de estudos bem calendarizado, que pode ser totalmente trucidado se houver alterações nas datas dos exames, e podem, em consequência, marcar indelével e negativamente o futuro destes jovens. Por isso é minha opinião que os exames devem ser considerados “serviços mínimos”.

Fico-me por aqui, para não me acharem muito maçador! :)

Abraços e beijinhos!