Em primeiro lugar, quero agradecer ao Faber por ter aberto as hostilidades nesta "nova época" do Fórum.
Mais uma vez, os incêndios foram o tema
QUENTE (sarcasmo) do Verão. Também quente (talvez morna…) foi a candidatura do veterano Soares à Presidência, mas penso que isso ficará para discutirmos no futuro; mais oportunidades surgirão certamente. À oportuna “lista de candidatos a almas puras” que o Faber aqui deixou, acrescento algumas notas dispersas para amontoar à discussão.
1. O principal responsável pela calamidade que vivemos todos os anos é o desordenamento florestal. Investe-se em monoculturas de pinheiro e em eucaliptais (que além de tudo arrasam completamente os solos), e depois esperam-se milagres. Bastaria entrecortar estas culturas com sobreiros, e estava criada uma bela barreira contra a propagação do fogo. O problema é que 94% da nossa área florestal é privada, e a estes minifundiários interessa ganhar uns trocos com as monoculturas de que falo acima, pois é isso que dá dinheiro.
2. Existem leis que, se cumpridas, mitigariam bastante a catástrofe dos fogos que vivemos todos os verões. Nomeadamente: a) as autarquias são obrigadas a limpar os matos nos 100 metros em redor das aldeias, vilas e cidades sob a sua responsabilidade; b) os proprietários devem limpar os terrenos num raio de 50 metros à volta das habitações; c) todas as vias devem ser limpas nos 20 metros (creio) à sua volta. Outra lei importante é a que diz que durante o prazo de 10 anos após um incêndio não se podem fazer novas construções, nem podem ser alterados planos de ordenamento. Claro que isto não se cumpre, pois não há um cadastro florestal (ver ponto 3.). Há lei, mas não há fiscalização. Assim sendo, para que é que há lei?
3. Limpar o mato sai caro, e nenhum proprietário privado está interessado em gastar dinheiro. Por essa razão deveriam ser obrigados a fazê-lo – e o nosso Governo já prometeu que tal vai acontecer no futuro. O problema vai ser cumprir: não há capacidade de fiscalização (veja-se o ponto anterior), não há, sequer, um cadastro florestal (não se sabe quem são os proprietários da floresta…). Obriga-se como, e quem, a cumprir a lei?
4. Após um fogo, os proprietários não são obrigados a reflorestar o terreno ardido. Esperam que o mato vá crescendo, desordenadamente. Resultado? Mais combustível para queimar no futuro…
5. Quem ganha mais com os incêndios? Claramente: 1) Os madeireiros. Estes ganham com os fogos pois compram a madeira barata mal esta arde (se as árvores não forem cortadas rapidamente apodrecem, e os proprietários têm de a vender rapidamente, logo, ao desbarato). 2) As empresas dos meios aéreos que combatem os incêndios. Li recentemente que havia algumas em que 40% das receitas totais provinham das épocas de fogos. Se acabarem os fogos, abrem falência, naturalmente.
6. O nosso país tem muitos malucos que se excitam com os incêndios. Ajudados pelas imagens televisivas e pelo sonho de ter uma obra sua na televisão, ateiam fogos. É um fetiche muito perigoso destes maníacos.
Cumprimentos a todos, e boas férias para os sortudos que ainda as vão gozar… :)